Hoje fui almoçar a casa dos meus sogros. Já ouviram falar das queixas crónicas de falta de tempo e cansaço em tempo de férias (dos outros!), e um almocinho à pala calhou que nem ginjas.
Quem ler isto vai pensar que é caso raro lá irmos almoçar. Qual quê? Cravamos o almoço à sogra todos os dias da semana e às vezes ao fim de semana também!
Quando lá chegámos estava a televisão ligada na TVI. Transmitiam a missa dominical. Olhei para lá...
-Aí.... tanta chefe!!!! - disse eu ao dar de caras com a maior concentração de chefes de escuteiros por metro quadrado que vi nos últimos tempos.
-Os do lenço verde são os chefes?- perguntou-me o meu sogro.
- São. Os de verde, todo verde são chefes.
E fiquei ali a olhar para a TV e a recordar uma das etapas mais importantes da minha vida.
Eu também fui escuteira. E o meu irmão. E os meus primos. E a minha melhor amiga. E o meu pai, que foi arrastado por nós. E a minha mãe só não foi, porque resistiu estóicamente.
Corria o ano de 1989 (sim já sou um bocadito cota...). Eu, a minha prima Dora e a minha amiga Sónia, andavámos a pensar como contornar o facto de termos sido colocadas em escolas diferentes, que nos separava o dia a dia, e andávamos à procura de algo mais para fazer do que ir à escola. Tinhamos 13 ou 14 anos... o mundo ainda não era nosso...mas havia der ser!
Decidimos tentar o escutismo. Convencemos o meu irmão e o meu primo. Tínhamos que ser muitos. A todos ao mesmo tempo, os pais não iam dizer que não. E a minha avó também ajudou, julgando coitada, que os escuteiros eram só menininhos fardados que iam à missa...
O embate inicial não foi dos melhores. Mas "teimosinha da silva" como sou, não desisti. Continuei e não me arrependi.
Nos 9 anos que estive no Agrupamento vivi muitas aventuras, tive muitas experiências que só algo como o escutismo nos pode proporcionar.
Dormi em tendas... andei kms a pé com a mochila às costas... vi o céu à noite, cheínho de estrelas... acendi e apaguei fogueiras (de todo o tipo)... fiz amigos... pedi ajuda... ajudei quem precisava... fui patrulha, equipa e equipe... desenrasquei-me... aprendi a tocar viola... rezei... cantei... ri e chorei... aprendi a ser eu... cresci...
Quando em 1998 o meu chefe de então me entregou um lenço vermelho, igual ao que eu tinha usado nos 4 anos anteriores, assinado por todos os elementos do Clã, as lágrimas cairam-me pela cara. De pena, por saber que a minha vida profissional seria imcompativel com a disponibilidade que ser chefe exigiria, mas principalmente de saudade da etapa que ali terminava.
O Escutismo faz 100 anos. Todos estamos de parabéns. Os que estão no activo e os que já não estão. Todos que mesmo com a farda já guardada numa arca qualquer, continuam a trazer para a sua vida a essencia do escutismo. Todos os que tentam deixar o mundo um bocadinho melhor do que o encontraram. Todos os que vivem "Sempre Alerta". Todos aqueles que nas encruzilhadas do caminho, páram e rezam a Oração do Escuta...
Orgulho-me de ser um deles.
Escuteira uma vez, escuteira para sempre.