Estive agora a ler os comentários que me deixaram ao último post.
Queria responder um por um mas não consigo, não tenho palavras que cheguem para agradecer a força, o apoio, o animo... tudo o que me deixaram.
E às vezes ainda o F. me pergunta porque mantenho o blog...
É verdade que as coisas não correram muito bem no primeiro tratamento.
É verdade que eles podiam e deviam ser melhor atendidos.
É verdade que trabalhar num hospital de dia de oncologia é desgastante para qualquer um e por muito forte que a pessoa seja é sempre dificil lidar com tanto sofrimento, tanto desespero.
É verdade que eu tinha refilado mais, talvez porque me apercebesse do que se estava a passar, coisa que eu não posso pedir nem ao meu pai nem à minha mãe.
É verdade que o Ben u ron tinha que ser administrado pelo hospital e não pela minha mãe.
É verdade que eu talvez tivesse pedido mais explicações à enfermeira pela asneira.
É verdade que eu não saia dali com a explicação de que o medicamento era um quimico, porque todos eles têm nome comercial ou DCI.
Mas temos que relativizar. Para continuarmos em frente.
Porque a maior verdade de todas, a que realmente importa é que há esperança. Que não se repetiu com o meu pai o cenário de há 16 anos com o meu avô, quando nos disseram que ele tinha 6 meses de vida (acabaram por ser 8).
Que acordamos todos os dias com fé de que esta fase será só uma má fase, que vai durar um ou dois anos, e que vai ficar na memória só como uma nuvem negra.
Que quando olho "para a frente" imagino o meu futuro sempre com o meu pai presente, imagino que vão poder envelhecer juntos como sempre quiseram.
Este post é só para vos agradecer a todas pelo facto de existirem, de se preocuparem e de serem minhas amigas.
O meu pai iniciou ontem a quimio.
Confesso que estávamos todos apreensivos. Os cenários que nos tinham pintado incluiam muitas náuseas, vómitos, mal-estar, fraqueza...
Felizmente o meu pai está muito bem. Nada de efeitos secundários. Está a tomar comprimidos que fazem parte do tratamento e só vai ao hospital de 3 em 3 semanas, o que lhe permite levar uma vida normal.
Para terem uma ideia, enquanto a quimio corria ele esteve ao telefone a tratar de negócios mais de metade do tempo e na outra metade a ler o jornal!
No serviço estavam duas enfermeiras, uma mais velha, outra mais novita... mas nenhuma era estagiária!
Puseram o soro a correr, tudo correu bem até quase ao fim quando o meu pai começou a queixar-se de dores na mão. A mais nova foi lá ver, mexeu e remexeu no soro, e concluiu que estava tudo bem. Aumentou a velocidade do soro. E as dores aumentaram.
2ª tentativa de diminuir as dores.
Enfª- Não isto está tudo bem. Eu vou ali buscar gelo.
E pôs-lhe gelo na mão
Chega a 2ª enfª, a mais velha, olhou para o meu pai e disse à minha mãe
-Então a minha colega já lhe disse o que não pode fazer?
- Não, não nos disse nada.
- Então o Sr. não pode mexer em nada gelado, não pode lavar as mãos com água fria, não pode beber nada gelado, não pode comer gelados. Nada de coisas frias.
Lembram-se o que e que o meu pai tinha em cima da mão? E quem é que lá o pôs?
As dores continuaram. A minha mãe levantou a hipótese de lhe dar um comprimido.
1ª Enfª- Pode dar. Um Ben u ron se tiver. Nós aqui não temos... (boa! Não há analgésicos num hospital. Ou seria preguicite da enf que não o quis ir buscar?)
A minha mãe tinha o comprimido na carteira. E água? Onde havia? Na máquina do serviço, ali ao canto.
Certo... adivinhem o que saia da máquina... certo!!!! Água gelada, que os doentes não podem beber!
E quando a minha mãe perguntou que medicamento tinha sido administrado ao meu pai a parva da enfermeira só respondeu:
-Ah... isto é um medicamento quimico que há aqui no hospital.
(como se houvesse perfusões endovenosas de chá !!! )
Santa ignorância! Ou será que é santa incompetência?!?